Negros de Barco

Ai minha terra!

Querida mãe,

Adeus. Navegar vou

Em mares desconhecidos.

Fui arrancado do seio

Da minha cultura.

Pra viajar no

Desconhecido.

Navio negreiro

Que agora me embalas

Aonde me levas?

Mar azul e agitado

Por que move-ses

Tanto? Será assim

Minha vida?

Estou no navio

Que o velho Castros

Falou. Acredite.

Aqui dentro é bem pior...

Saí, fui vendido,

Jogado, fui pra senzala

E pro tronco. A roupa, não tenho.

Ficou lá no tronco.

No engenho fui moinho,

No cafezal, agricultor.

Fizeram-me bicho,

E esqueceram quem sou.

Quem trouxe o frevo

O maracatu, Afoxé!

Foi nas tristes senzalas

Que joguei capoeira.

Sou o negro filho de

Manman Lafrik di.

am nwa a

bagay ki sèvi m 'nan ki

yo pi plis pase kilti san

(Mamãe, África.

Sou o negro

Que em meus vasos

correm mais cultura que sangue).

Lucas Mota
Enviado por Lucas Mota em 19/08/2013
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