Adeus, Senhora.

Dezoito horas, rezo Ave-Maria,

Mas mentalmente p'ra não te acordar;

Não é apenas o findar de um dia,

Pois igualmente finda o meu sonhar.

Sinto os horrores desse pensamento

Que desde cedo tripudia o amor;

Reflito triste no meu passamento,

E sinto o frio noturno com terror.

Teu seio arfando, rosa e perfumado,

Qual brisa leve que da flor se perde

Para beijar meu peito, que magoado,

Treme baixinho na coberta verde.

Oh, Deus d'Aurora! Oh, Deus do Sofrimento!

Inda uma vez abraça o meu penar.

Peço uma vida a mais, um só momento

Para que eu possa ela outra vez, amar.

Recordo os anos... (sempre tão velozes)

Que nós vivemos com desatenção.

Hoje, eles voltam num coral de vozes

Para assustar meu pobre coração!

Adeus, amada! Adeus, pálido canto!

(Num movimento... ela... gentil... desperta;

Toma dum lenço pr'a enxugar meu pranto,

E docemente minhas mãos aperta).

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Se estou chorando o derradeiro leito;

Se estou sentindo o meu adeus agora;

É que d'amores vibra e geme o peito

Que só por ti viveu feliz, Senhora.

São Paulo, 21 de Agosto de 2013