Escrita em sangue

Obseda-me ser fúnebre

como cão a guardar tua alma

no corpo dela subtraído,

desde agora sob o sol dos males.

Macabro é o amor,

em estado de fazer doer

a dor que sempre infligi

sem jamais antes senti-la em mim.

Teu busto me reclama febre,

delírio de impressões delicadas,

tristezas inconfessáveis,agora

para sempre em tuas veias

e pulmões: asas de ave morta

sem cânticos e nem mais silêncios.

Meu antropófago tórax é teu féretro;

ainda são tuas minhas mãos

necrófilas que, em busca

de calor carregam-te ao colo.

Sempre busquei na morte

(não na tua, fique claro,como

a luz que não verás

de novo, porque tudo

que nos cega é a morte):

o sabor final do amor:

Saboroso amor do dia-a-dia:

hematoma de contentamento

na virilha entre as duas coxas

onde, ao pôr-te ao chão, enfio

o rosto para derramar saliva e lágrimas em teu colo doce e frio,

como se menino-homem

fosse capaz de amar-te

com a mesma pungência

daquela primeira vez em sangue.

Fabio Daflon
Enviado por Fabio Daflon em 06/12/2013
Reeditado em 06/12/2013
Código do texto: T4600666
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