Cremado

Como projétil

Secante à alma.

Choque negro,

Tangencia calma.

Tão rápido.

Cadê reação.

Nem chora coração,

Dormem lágrimas.

Tenta lamentar,

Enunciar,

Trovejar

Coisa humana.

Nada.

Disparo rápido

Que ataca

Não dói,

Marca.

“Olá bala!

Já vai,

Dona bala?”

Pára e pensa.

Tu não és

O que pensa.

Pensa mais.

Procura falta

Que te falta.

“Passado!

Aonde tem

Passado?”

Pássaros vigia,

Segue rotas.

Quem sabe

Dona nostalgia

Bata na porta.

Paquera céu

Conversa com laranja

Do crepúsculo.

Pergunta como é

Ficar sufocado,

Sentir-se minúsculo.

Noite glacial,

Horas atrás,

Lia jornal:

Mataram rapaz.

Tiros na nuca,

Pedradas no rosto.

Sofreu como nunca,

Pobre moço.

Vinte e tantos anos,

Engenheiro civil.

André Juliano,

Há pouco partiu.

Amigo raro,

Ex-amigo raro.

Três ou quatro

Anos de laço.

Ex-humano,

Agora pó.

Tu,

Ex-humano,

Agora pó.

Segura tua vida,

Ex-vida cremada.

Não deixa caída.

Não deixa jogada.

Em palmo,

Firme estará,

O que te fez oco.

Então com sopro

Não voará.

Como pássaros

Desenhando vida

Em céu azul, laranja,

Além mar,

Para em instante

Jamais voltar.

Não aguardava

Cruel estocada

Do destino.

“O que há

Comigo,

De tão errado,

Ardido?”

Projétil rápido

Costuma marcar.

Que dizer

Da labareda

A esfacelar

O que ser

Já foi?

Cremados...

Giovanne Steudel
Enviado por Giovanne Steudel em 21/08/2014
Código do texto: T4931208
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