Ressaca moral

Fim de ano se aproxima

Vem caindo uma poeira fina

Tal pó de massa corrida

Insistente, difícil de tirar.

Vem o calor e ainda por cima

Preocupações dobram a esquina

Incertezas em nossa vida

Tudo mudando de lugar.

Olho pros lados, pra cima

À cata de algo que não desanima

E só vejo estrelas caídas

Tentando não parar de brilhar.

Foram-se embora sorrisos e abraços

Ficou só cegueira e surdez

Cegos e surdos rompendo laços

Estragando a amizade de vez.

Ficamos tristes todos os dias agora

Não sem razão, temos nossos motivos

A mentira chegou, dessa vez sem demora

Contagiando os que ainda estão vivos

E se houver algum clima de festa

Será o de uma festa macabra:

O esbanjar de tudo o que resta,

O impedir que outra porta se abra.