CHÃO DE TERRA BATIDA

Barraco pendurado no morro,

E no seu interior, piso frio,

Chão de terra batida,

Onde no inverno fazia frio,

No verão, calor sufocante,

E nas chuvas, umidade mal cheirosa.

Pequeno espaço como quintal,

Onde o córrego poluído carregava os esgotos,

Da pequena comunidade onde tudo era pobreza,

E as crianças nem sequer podiam correr.

Pai ausente, mãe maltrapilha,

Que sozinha cuidava de filhos pequenos,

Três ao todo, sem identidades paternas,

Frutos de relacionamentos passageiros,

Pois buscavam somente prazeres carnais,

E nos documentos somente o nome da mãe.

Uma garotinha sonhava em ser bailarina,

E nos sonhos se via bailando num palco iluminado,

Deslizando suave com pés calçando sapatilhas,

Meias rendadas, cabelinhos penteados com gel,

Saias flutuantes que realçavam seu corpinho bonito.

Via sua mãe com olhos marejados de lágrimas,

E para ela direcionava seu lindo sorriso,

Sabendo que a mamãe querida,

Queria também que ela fosse bailarina.

Aplausos entusiasmados da plateia encantada,

Direcionados para todas suas amiguinhas,

Que juntas formavam um lindo corpo de bailarinas,

E ao som da música que tocava os sentimentos,

Muitas lágrimas dos rostos escorriam.

Acordou um pouco assustada ao ver sua realidade,

Pois do palco iluminado onde existiam luzes e flores,

Tudo se resumiu ao barraco imundo e de terra batida,

E soluçando perguntou à mamãezinha preocupada,

Porque ela, criancinha, não poderia ser uma bailarina?