Momentos raros que ainda existem
Esta manhã me olhei no espelho, há tempos desde a última vez que o fiz
Estou mais azul do que de costume, e meus lábios partidos e rachados
batendo de frente com mau hálito e olhos inchados.
Uma figura morta, que geme momentos de vida, no cariz.
Apenas momentos
Quando estalo os ossos , e nos 3 segundos de bocejo
no café que tomo, e na merda do vaso.
Fétidos fragmentos.
Meus versos estão cada vez mais escassos
outrora me vi , esgotando cadernos e cadernetas.
Algures , existia , tinha sangue nas veias
Hoje procuro estreitar os espaços vagos.
E nada de poético há , na chuva que cai lá fora
nada de amor existe, no perfume da roupa intima
nem que quisesse eu poderia
Lhe escrever poesia agora.
Sou enrustido , pagando de poeta, que só escreve quando esta triste
Pois estando feliz, canetas e papéis não me apetecem
versos , ensaios, poemas, todos eles desaparecem
pois tenho de aproveitar os raros que ainda existe.