DESASSOSSEGO
Esgotar-se na plenitude da palavra
Estrangular-se no instinto
Enforcar-se na ilusão
Guilhotinar-se sem piedade.
I
Tudo foi desfeito, derretido
Nas mãos do tempo,
Puído e remendado.
A teia da aranha era o abrigo.
II
O gozo era um chuvisco
Nas virilhas que se fecham;
Veias abertas à traição.
Cão faminto, o meu coração é um cão.
III
A matilha montada em minhas costas,
Sugando tudo o que vejo à frente,
Nem o rio restou, nem uma carniça,
Nem o teu corpo, nem o teu sangue.
IV
Esses ossos que a terra se recusa a comer,
São fortes, são pedras, são a prova.
Cremados aos poucos, sem espremer.
Toda alma agoniza quando chega a sua hora.