DESASSOSSEGO

Esgotar-se na plenitude da palavra

Estrangular-se no instinto

Enforcar-se na ilusão

Guilhotinar-se sem piedade.

I

Tudo foi desfeito, derretido

Nas mãos do tempo,

Puído e remendado.

A teia da aranha era o abrigo.

II

O gozo era um chuvisco

Nas virilhas que se fecham;

Veias abertas à traição.

Cão faminto, o meu coração é um cão.

III

A matilha montada em minhas costas,

Sugando tudo o que vejo à frente,

Nem o rio restou, nem uma carniça,

Nem o teu corpo, nem o teu sangue.

IV

Esses ossos que a terra se recusa a comer,

São fortes, são pedras, são a prova.

Cremados aos poucos, sem espremer.

Toda alma agoniza quando chega a sua hora.

Pedro Simao Rocha Matos
Enviado por Pedro Simao Rocha Matos em 28/04/2015
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