CINZAS
Como posso seguir sem as gotas de luz do teu olhar?
Sem a cor, sem o brilho, sem uma vida líquida?
Eu nada encontro fora de mim além de ti.
Tenho a certeza que és o meu caminho;
A trilha quebradiça onde encontro equilíbrio.
Quando todos os caminhos se fecharem,
Tu estarás no fim do túnel?
Se a selva fechar sobre mim, o meu coração há de enxergar?
As veias ocultas do meu corpo se aguçam, por certo irão estourar,
Não terás mais o meu sangue, a minha agonia terá fim,
Longe das tuas mãos, na estremução de um amor que finda.
Mantenha a porta fechada, os anjos às vezes são de carne.
Vindo a chuva cair sobre a minha cabeça, terei porventura alivio?
Quando o cupim minar as pernas da tua cama,
Qual será o peso do meu corpo, da minha alma, do meu adejar?
E se a tristeza te consumir?
Não faça dos meus ossos cópias de pérolas no teu pescoço.
Só há uma certeza, somos dois crucifixos distintos e inimigos na fé que
Poderia nos unir na crença de um amor que jamais seria imortal.
Pedro Matos