sobre o amor que apaga mais do que ilumina
nada posso dizer sobre a completude das coisas
só entendo dos quases, das metades e dos porquês
é disso que você me alimenta
e eu mastigo todo o doce dos momentos
sem nada me chegar ao estômago
sigo digerindo os vazios
pois prefiro a úlcera
ao alimento oferecido por outrem
ou por mim
sei que dependente do teu governar
meu amor é um país que nunca sairá do mapa da fome
e eu já perdi a esperança
de emergir
sobre a falta, muito sei
falta de tato
falta de afeto
sobre o não-ser
o talvez
a incerteza
os dias recheados de angústia pelo depois
o caminhar que nunca chega a nenhum destino
sobre a desnutrição
que não mata
mas não deixa viver
sobre buscar equilíbrio nas pernas
já cansadas demais pra achar outro norte
sobre o amor que apaga mais do que ilumina
que não prossegue, mas nunca termina
(o poema me lembra um trecho que achei por acaso: "Ir embora de uma pessoa é uma das tarefas mais difíceis da vida. Porque, antes de tudo, e principalmente depois no nada, partir é repartir-se. Como, por exemplo, ir embora de alguém? Vai-se de ônibus, trem, avião ou a pé tropeçando na vontade tola de voltar? Quantos quilômetros de tempo são necessários para estar longe o suficiente? É preciso mudar para outro estado para mudar o estado da alma? Do que adianta não ver ninguém ao olhar para trás, mas ver ao olhar para dentro? Amor é sempre, e repetidamente, acabar de sair dos escombros.")