sobre o amor que apaga mais do que ilumina

nada posso dizer sobre a completude das coisas

só entendo dos quases, das metades e dos porquês

é disso que você me alimenta

e eu mastigo todo o doce dos momentos

sem nada me chegar ao estômago

sigo digerindo os vazios

pois prefiro a úlcera

ao alimento oferecido por outrem

ou por mim

sei que dependente do teu governar

meu amor é um país que nunca sairá do mapa da fome

e eu já perdi a esperança

de emergir

sobre a falta, muito sei

falta de tato

falta de afeto

sobre o não-ser

o talvez

a incerteza

os dias recheados de angústia pelo depois

o caminhar que nunca chega a nenhum destino

sobre a desnutrição

que não mata

mas não deixa viver

sobre buscar equilíbrio nas pernas

já cansadas demais pra achar outro norte

sobre o amor que apaga mais do que ilumina

que não prossegue, mas nunca termina

(o poema me lembra um trecho que achei por acaso: "Ir embora de uma pessoa é uma das tarefas mais difíceis da vida. Porque, antes de tudo, e principalmente depois no nada, partir é repartir-se. Como, por exemplo, ir embora de alguém? Vai-se de ônibus, trem, avião ou a pé tropeçando na vontade tola de voltar? Quantos quilômetros de tempo são necessários para estar longe o suficiente? É preciso mudar para outro estado para mudar o estado da alma? Do que adianta não ver ninguém ao olhar para trás, mas ver ao olhar para dentro? Amor é sempre, e repetidamente, acabar de sair dos escombros.")

Keuri Caroline
Enviado por Keuri Caroline em 03/06/2015
Reeditado em 03/06/2015
Código do texto: T5264855
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