OLHAR MÍOPE, TEMPO TENEBROSO
Não temos lírios todos os dias
muito menos borboletas nos quintais
talvez um sol para a-cor-dar
talvez um orvalho morto, sem brilho.
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Quando o escorpião mora no sapato
a meia não se transforma em coro
o sangue é derramado todos os dias
se o mal nos espreita, os olhos ficam míopes.
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A sombra tende a morrer; o corpo se esconde
os rios secam; o dilúvio vem nos raios do sol
os sonhos serão sempre serpenteados
um ninho de cobras abraça a doce esperança.
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Os lírios nos acompanharão um dia
o escorpião abandonará nossos passos
a sombra será sepultada, aniquilada
talvez um sapo orquestre a chegada do inverno.
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Pedro Matos