Heitor e Elvira (versão de “Pálida Elvira”, de “Falenas”, da autoria de Machado de Assis)

Elvira conheceu Heitor

e foi abatida pelo amor!

Aquele homem era poeta...

“Não, não lhe serve, não presta!”

Assim dizia o pai de Elvira.

“Vive ele de versos e de lira!”

Continuou o velho austero!

“Mas é ele que eu quero!”

Pensava Elvira, mas não ousava falar.

E o amor em segredo pôs a guardar.

Às escondidas, como Romeu e Julieta,

encontravam-se... vítimas da faceta

do Amor que é perigoso,

mas vence aqui o gozo

de sentir o peito arfando,

e noite a dentro vão se amando...

Mas não, Heitor não quer se casar,

a sua vida é outra, é a de rimar

e fazer poesia

e com isso se extasia!

Vai-se! Galga montanhas, atravessa os mares

e vai, vai respirar outros ares.

Mas a sorte não lhe sorri! Ah, não!

A vida de poeta não é fácil! Então,

depois de meses tentando

e fome passando...

Ah, sim! Volta pelo mesmo caminho.

Ao doce e amado ninho

de amor da amada Elvira,

e o que vira?

Ora, o velho pai da moça,

ainda viril, exibindo força,

nos braços carrega com carinho

o seu tão amado netinho...

Ao vê-lo, se aproxima Heitor,

pois sabe que é o filho de seu amor...

“Não, meu rapaz,

aqui agora reina a paz.

Mas Elvira, coitada,

todo esforço de si ela deu,

e ao nascer a criança, logo depois morreu...”

“Morreu?! Elvira?!”

Heitor não acredita! A sorte de fato o evita.

Queria criar o filho com ela,

Mas nada resta dela...

Desesperado, volta às montanhas,

e esse mesmo desespero lhe incute suas terríveis sanhas!

No desespero, cai ao mar,

Não, não sabe nadar...

Morre afogado.

O velho tudo vê, sem se mostrar alarmado.

Então, volta pra casa.

A lareira tem pouca brasa.

Minutos depois, entra Elvira, com um pouco de lenha,

ao trabalho se empenha.

O velho espera a filha colocar a lenha na lareira,

uma lida costumeira.

Então, lhe entrega o filho amado.

Sorridente, ela o aconchega ao seio e com amor é afagado.

O velho apenas observa...

Elvira tem olhar distante, conserva

em si a esperança de ainda estar

com aquele que nunca mais há de voltar.

Binho Laranjeira
Enviado por Binho Laranjeira em 12/11/2015
Código do texto: T5446442
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