Um dia ruim.

É incrível como as coisas parecem escorrer pelos meus dedos.

Como os minutos, horas, passam, e eu me perco.

Chorando, recordando e tendo dores.

Estou tão farta disso.

Resolvi melhorar, resolvi guiar meu caminho.

E ser feliz.

Mas os dias mudam, os sorrisos falham, e as lágrimas voltam a rolar.

E os dias depressivos e cheios de uma ternura melancólica e triste me engolem com uma fúria que me espanta.

Observo minha vida.

Me pego sozinha.

No chão.

Chorando.

Alguém do meu lado, massageando meus ombros, segurando minha mão.

Me acalentando dizendo: tudo vai ficar bem, minha querida.

Pena que esse alguém é apenas minha mente.

A minha tortuosa mente criando imagens que não existem e estão longe de serem reais.

Imagens que me fazem soluçar mais ainda.

Coloco a mão na cabeça, sentindo que esse vazio vai me corromper para sempre

Parece tolo, mas sempre me pego olhando para a porta ou para o celular.

Talvez alguém entre...

Talvez o celular toque...

Ou quem sabe uma mensagem boba venha, mas ao menos apareça...

Mas realmente é tolo.

Mas é inevitável que eu pense em coisas boas.

Porque é o que eu quero.

Não sei o que acontece.

Sei o que eu sou.

E sei que chorar no banheiro a espera de coisas impossíveis não é o que eu mereço.

Oh, como eu mereço coisas boas!

Algumas lembranças circulam.

Eu engasgo em mais lágrimas.

Minha cabeça gira.

Me sinto ficando sem o ar, o chão parece sumir aos poucos, me levando consigo.

Ouço vozes. Elas parecem tão reais, será que não são reais?

Algumas músicas parecem tocar de fundo, como tema da minha desgraça.

A noite vai caindo, as estrelas vão brilhando, os carros vão passando e as pessoas continuam sua vida.

E a minha vida?

E o que eu estou fazendo?

O que eu poderia estar fazendo?

Estou sentada no chão do banheiro, agora gélido, sem rumo, chorando.

Com uma dor que parece me engolir desesperadamente por dentro.

Sem esperanças.

Mas sei que mereço mais. Sei que posso mais.

Me levanto.

Lavo meu rosto. E me observo por alguns segundos no espelho.

Eu costumava ter um brilho especial nos olhos.

Onde havia ido parar aquele brilho?

Ele não havia morrido.

Disso eu sabia.

E sabia que também não era o último dia ruim e triste da minha vida.

E nem fora o primeiro.

Muitas coisas haviam acontecido.

Muitas alegrias.

Muitas tristezas.

Muitos dias achando que tudo daria certo.

E vários dias chorando de frustração e dor.

Mas lá estava eu.

Sempre viva.

Porque alguma hora eu sempre levantava do chão do banheiro.

Lavava o rosto.

E seguia.

Porque é assim que deve ser.

Tormentas que aumentam e depois se acalmam.