AVE FERIDA
As minhas digitais tocam teu corpo, "mesmo estando longe",
com a alma numa penumbra triste,
longe da luz do sol, longe da luz do luar, longe do som da minha voz,
tudo tem você, porque a distância não pode separar um sentimento.
...
O teu cheiro, o teu jeito, o teu sorriso, o teu jeito de andar,
a voz estridente às vezes, as minhas efusivas broncas
com ar de conselhos, quase uma premonição;
tudo soa e me companha como se fossemos um só corpo,
um só sentimento... e tudo vai se conformando, tudo vai se
consumindo nesses dias que tanto demoram a passar!
...
Ah!, ah, se eu pudesse quebrar os elos de ferro que nos separam!
Quisera ser o vento, o mais forte, para romper a distância,
passar perto de ti, roçar no teu ouvido, dizer baixinho: Te amo!
Quisera te trazer às águas do calmo rio,
colhermos as flores no mesmo jardim, comermos do mesmo pão,
lavarmos juntos as frutas e tirarmos delas o sumo que nos dá prazer;
tudo, tudo contigo, sem jamais eu ver tua imagem minguando
nos meus olhos, se distanciando como uma águia que, para sair
em busca do alimento, precisa voar, voar alto, para não esquecer
o lugar onde estás.
...
Visão de Águia; paciência de Jó; força para resistir, persistir e continuar
na esperança de que um dia os gravetos dessa gaiola possam apodrecer
e só então passaremos a voarmos bem alto, livres, de mãos dadas,
na certeza de termos um ninho só para nós dois, -esse mesmo lugar
em que um dia te ensinei a voar, mas você voou alto demais ...
e me deixou fora do teu alcance. Você esqueceu a maldade dos
predadores, mas, mesmo ferida, eu tenho minhas mãos e digitais
em cada centímetro do teu corpo!
Eu te Amo.
...
Pedro Matos