A advogada que fazia café...

De todas as coisas que alguém poderia ter vivido

Nada mais profundo, cruel e incrível

Fazer um café sem ser reconhecido

A vida toda é para sempre um alvo dos tolos

Que nos perseguem nos chamando de bobos

Mas, num café, tudo é tão perfeito

Que a hierarquia entre a doméstica e a advogada

Se enobrecem

Fazia eu café, e meus seios lindos sentiram a dor

Porque o café era feito com amor

Mas, eu advogada, já era nada

E meus seios se queimaram

Será quem era eu? Uma advogada que fazia café!!!

Não existe poesia triste para dizer

O que meus seios escondem no meu porque,

Mas, francamente posso dizer

Que de tudo o que já fiz nesta vida

Encontrei no café a dor,

Não por ser advogada doméstica

Mas por não ser ninguém, quando meus seios se queimaram

Tudo bem,

Nada de previdência ou providência que pudesse amenizar

Tanta dor,

Mas, uma coisa digo, com propriedade

Faço um café de verdade,

e meus seios olham pra mim,

E digo:

Não posso agir na mesma urgência em que choras

E mais,

Posso dizer-te com toda humildade

Que quando queimastes, morrera eu

Que quando, não te pudesses curar

Eu advogada,

Não soube nunca mais falar

Que entre uma doméstica e uma advogada

Existe a mesma dor acidentada

De pele queimada

Quando a providência não podes te salvar,

Então, advogada ainda sou

Mas, a doméstica ainda coa o café

E posso dizer com toda franqueza

Que eu, advogada

Ainda tenho a beleza dos meus seios queimados

E a tristeza da imperícia de que toda doméstica

Poderia se socorrer

Mas, a história continua

E o café, é o artista que me fez compreender

Que sou uma advogada

E não sei me defender...

Del Dias
Enviado por Del Dias em 09/02/2016
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