A Natureza e o Triste

O triste erra no paul sinistro

Onde do coração não flameja um astro

Passa, qual uma sombra esquálida

Fantasma misero...não deixa um rastro.

A cotovia quis mostrar-lhe um canto

A patativa um trinado doce

Surdo a harmonia,cego a alvorada,

Segue o infeliz,como se proscrito fosse.

Que importa o horizonte de amor?Que importa?

Se há luz nos prados onde geme o vento?

Se a noite ascende as suas luzernas místicas:

A grande flor azul do firmamento?

A tudo alheio, por desertos fundos,

Segue o tristonho, o coração exausto,

Que importa da serrana o lábio ardente,

Do palácio de seu corpo o fausto?

Sem rumo sobre a terra...eu te vi um dia

Imenso pego de trevas Te era a alma,

Sem Deus...sem pátria...sem amor...amigos...

Fugiam de ti a esperança e a calma.

E tu seguiste, mas que vale tão murcho,

Mas que sudário roto a te enxugar o pranto!

Pobre cadáver que branqueiam as estrelas

Misera lira onde não freme um canto!

Porque não rasgas este sudário escuro?

Porque não apunhalas o caudal de treva

Que assim te envolve em rude desencanto?

=Morte soturna que o fel a vida leva!

Tudo cantava, ao teu redor sinistro,

O ninho, o céu, a alvorada, o vento,

Filhos etéreos que o horizonte aninha

Dentro da concha de cristal do sentimento.

E entanto tu louco, embuçado

No teu pesar negro ante a terra clara

Não pede ao peito um embalar festivo

Nem a razão turbada já te aclara.

O que tens? São falta de amores?

Abutre fero te roubou a amante?

Porque te exalas no orvalho dos suspiros

Cometa triste no universo errante?

A patativa da manhã já vem risonha,

Ave flórea, de musica perfuma o espaço,

Passa o proscrito em turbilhão noturno,

Ave desfolhada na dor e no cansaço.

O que anuncias, patativa festejante?

Enquanto dizes-amor- outro ser chilreia

Só trevas tenho eu dentro do seio

E em báratros medonhos,cambaleia!

Mas sôis irmãos..prantos e alegria...

Duas asas que a existência em si unira

Um canta a ode risonha de Moliere,

Outro o uivo que do chacal se ouvira.

Assim é a sina...estranha adusta sorte!

Vida, como os teus rumos são incertos:

Paisagem de flor a quem só te celebra

Súbito viras a crueza de desertos.