Trago a dor

Trago a dor estampada em meu rosto

como uma tatuagem a paisana

nesta alma cadenciada e plana

só há a dureza e o veneno da maçã do amor

trago a dor neste espírito

pois o que resta de mim é só um grito

de aguda e profunda melancolia do desamor.

Minha vida se tornou um desastre

minha alma já não é mais o que era

me assemelho mais a uma carcaça

a espera do cachorro para levar os ossos e esconder da vista terrena

dos ladrões e doidivanas

dos sentinelas desvalidos.

Meu coração não existe mais

em seu lugar só existe a dor

pois é dela que me alimento agora

neste sofrimento e terror.

cabe a mim agora a dizer o adeus

pois desta vida só levo o mal que plantei

sem cometer nem um ato no bem

as traças do mal se comprazem em me devorar também.

Vou embora para além do inferno terrestre

vou para o umbral da vida

minha sentença já está marcada

e meu corpo já está enterrado também

e trago a dor estampada em meu rosto

uma obsessão um desgosto

e na placa do meu túmulo diz assim:

Aqui jaz aquele que da vida só fez o mal

e aqui está o caminho que ele trilhou

na senda do desamor e do terror.

virou pó

desordeiro era

agora os vermes de sua carne fazem um banquete assistindo uma comédia,a comédia da pobre vida deste homem que não soube o verdadeiro sentido do amor,pois ele só trazia a dor.

Trago a dor e somente ela me compraz

nesta vida ou em outra

eis me aqui

um zumbi

sentinela do apocalipse

um derradeiro semblante é o meu

atemorizado e maldito

vou me embora

para além do rancor

eis me aqui

porque trago a dor...

Augusto dos Anjos(Poeta do Eu)
Enviado por Augusto dos Anjos(Poeta do Eu) em 21/06/2016
Código do texto: T5674643
Classificação de conteúdo: seguro