Folhas molhadas

Eu já não consigo ler o que teus olhos dizem, na realidade nunca consegui entender o que se passa em sua mente, mas por muito acreditei termos os mesmos objetivos. A maioria das pessoas tem uma mente previsível, e é fácil saber o que pensam, e pelo olhar até decifrar um sentimento, não com você.

O teu olhar sempre tão distante, frio e indiferente me enganou, acho que na verdade, para mim nunca olhou, esteve lá é  claro, mas quase que sem estar, pensávamos diferente, talvez,  hoje eu já nem sei no que acreditar. Tenho tentado seguir meu caminho quase como que um fantasma, sem saber por onde ou por que,  apenas por continuar, como diz a musica "mas não precisamos saber pra onde vamos, nós só precisamos ir" e assim a vida me ensinou mais uma lição,  talvez a mais dura de todas, algo que eu já sabia e ignorava: tudo tem início, meio e fim. E o fim as vezes chega antes do esperado.

Quem está preparado verdadeiramente para o inesperado? Quem tem coragem de bater no peito e viver. Como se não houvesse amanhã. Infelizmente nunca fui este tipo de pessoa, sou daqueles que ficam em silêncio, e se algo está errado, prefere ficar em casa, afinal de contas o mundo gira, e por que as coisas não voltariam ao seu devido lugar?

Não é  assim que as coisas funcionam meu caro "padawan" dentro de cada pergunta, existe uma resposta, existe uma lição, nada vem de graça e nem fácil, e quando vem... Logo se vai.

E foi vivendo assim que dia após dia fui abrindo este  corte em meu peito, uma ferida que já não cicatriza, uma dor que nunca passa,  as vezes some por um tempo, mas quando menos espero ela volta, mais forte, e o papel em que escrevo fica sendo a fiel testemunha de minhas lágrimas.

O papel que observa tudo em silêncio, poderia  conter respostas, mas nele só há perguntas, e no seu olhar apenas mistério.

Coisas que já cansei de tentar desvendar, sem as pistas necessárias é  quase que impossível conquistar seu coração, entrar nele então? Deve ter sido um sonho apenas a ilusão.

As folhas de caderno molhadas, assim como o travesseiro, frágeis e silenciosas testemunhas deste crime, as cicatrizes em um peito nu, de quem não tem a esconder, apenas mais um, que tenta em um mundo louco e insano... viver.

Quem dera fosse fácil, abrir mãos destes devaneios de verão, e crescer sem ilusão, até as ilusões são difíceis de cortar, vai saber qual delas mantém o castelo erguido, vai saber qual a pedra fundamental da muralha, aquela que pode por tudo a perder, assim como eu fiz. Sou muito nisso, a velha arte de criar expectativas e depois, lentamente por tudo a perder.

Esta tudo nas folhas, molhadas por lágrimas, o registro dos meus erros e acertos, dos amores e devaneios, apenas corações, cartas e paixões.  Pela metade.