O Aleppo de cá

Hoje sonhei um sonho

Quase medonho de se sonhar.

Ainda nem tinha secado os olhos

Pelas crianças do Aleppo de lá,

E já tínhamos outro choro,

Outro Aleppo pra chorar.

As lágrimas saltavam dos olhos,

Pulavam feito pororocas,

Era pela carne das crianças brasileiras,

Pelo sangue delas que escorria

Pelos vãos dos dedos dos que contavam

Dinheiro sujo da fome da gente...

Nas contas incontáveis,

Nos bancos e bancadas evangélicas,

Católicas, ateias e de umbanda,

Aos trancos e barrancos,

Lá estava a carne que faltava

Nos... Nos ossos febris dos pequeninos.

Faltou coragem pra mostrar a cara,

Embora fosse apenas um sonho,

Olhei pela fresta, era uma festa, uma siesta...

De abrirem-se mil academias

E, ainda assim, a gordura escorria...

Na outra via, eu vi, havia

Seres esquálidos, vindos de outros sonhos

Impossíveis de ser quimeras.

Eram rostos cavados, costelas quase fora,

Pensei que fosse um teatro

Maquiado pela dor e pela agonia,

Mas não era maquiagem não,

Era a fome que se apresentava no palco,

Era uma amiga da morte lenta

Que, se não fosse sonhado, ninguém veria...

carlinhos matogrosso

carlinhos matogrosso
Enviado por carlinhos matogrosso em 28/12/2016
Código do texto: T5865337
Classificação de conteúdo: seguro