Já passou

Já passou da hora

Mesmo antes de o alinhamento das estrelas mudar

E o fim da translação o ano novo saudar

Já havia passado da hora

De sofrer por um coração que não quer se apegar

As lágrimas que hoje me abandonam bem sabem

Que só não consigo deixá-lo ir

Porque tenho medo de nunca mais amar ninguém

E ficar ainda mais sozinha

Do que fico quando ele não está

Os olhos que me seguem pelas esquinas tortas da vida me vêem criança

Me vêem sorrisos deslocados e inocência na arte de amar

E não erram, os olhos que me julgam

Pois as loucuras intensas que vivi não foram amor

E só me fizeram desacreditar do que já me deixava cética

Os olhos distantes que me lêem sem me enxergar me vêem velha

Me vêem intelectual, madura e quase um gênio perdido na era errada

E não erram, os olhos que me lêem

Pois entendo de números e línguas e mapas e histórias

Ajoelho reis e dou xeque-mate em filósofos

Qualquer coisa até meu coração ligar e explodir tudo ao seu redor

Já passou da hora

Até as folhas caindo das árvores

E os insetos voando próximos à luz acesa já perceberam

Mas quando, quando vai chegar

O dia em que não o amarei mais?