Suplício

Minha dor cresce sempre que um novo sol se levanta

Os mesmos olhos mentirosos a olhar para mim

Me ferem com tamanha arrogância de fingir

Me sorria maliciosamente com desdém

Lavo o rosto. Será que o fogo no peito se abranda?

Eu sei que não, mas a maquiagem finge que sim.

E teimo um sorriso que também me ajude a mentir.

Mas no limiar daqueles olhos, vejo a mentira que eles têm.

Deliciosamente lambe minha dor e se diverte.

Como se se alimentasse de meus tormentos

Enfiando uma língua de fogo em cada ferida aberta

Rindo de cada fantasma que criou nos meus pesadelos

Vejo tudo de uma outra parte de mim, inerte!

Sou toda pedaços, nunca foram costurados os ferimentos.

E esses olhos! De quem mira e nunca acerta

Como sou tola! Eles fingem não notar meus apelos.

E novamente tranco minha alma do outro lado do espelho

Onde esses olhos não me tragam tanta dor

Fecho-os para uma noite eterna de esquecimento

Onde crio mundos que não me façam sofrer

Mesmo que no dia seguinte eu os encare de esguelho

E saiba que são dos meus próprios olhos esse horror

Quem sabe a piedade de um anjo me dê o livramento

E com a espada da redenção me deixe, de vez, morrer.