LONGE DO CÉU

Tenho metade do ser

impresso n'outro lugar,

e digo, não sei fingir,

tenho saudades de lá.

Qualquer dos dois tem luar

e a vida passa também;

eu que não soube brincar,

sempre buscando o além,

queimando a vela estraguei,

me destruindo a granel;

hoje carrego esse andor

que tento por no papel;

e tudo em mim arde até

escalpelar-me o ser;

dilacerar o pensar,

desafiar o saber;

vontade grande que dá

de berrar esse vazio;

vêm-me palavras no ar;

quedam-se n'água do rio

que inundou o meu sol,

e arrastou o meu bem;

que devastou-me o amor

e derrubou-me também.

Eis que meu lar se perdeu,

foi parar no beleléu:

um reino fosco e lilás

que fica longe do céu.

Cassio Calazans
Enviado por Cassio Calazans em 11/09/2017
Reeditado em 27/03/2019
Código do texto: T6111212
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