Saudade

Poesia que a copiei em 1980. Essa me encantou de tal maneira que fiz dela um hino da minha vida. Compartilho-a com os amigos do Recanto.

“Saudade palavra doce,

Que traduz tanto amargor!

Saudade é como se fosse,

Espinho cheirando a flor.

Saudade ventura ausente,

Um bem que se longe vê,

Uma dor que o peito sente,

Sem saber como e por quê.

Um desejo de estar perto,

De quem está longe de nós,

Um aí que não sei ao certo,

Se é um suspiro ou uma voz.

Um sorriso de tristeza,

Um soluço de alegria,

O suplício de incerteza,

Que uma esperança alivia.

Nessas três sílabas há de,

Caber toda uma canção,

Bendita a dor da saudade,

Que faz bem ao coração.

Um longo olhar, que se lança,

Numa carta ou numa flor,

Saudade irmã da esperança,

Saudade filha do amor.

Uma palavra tão breve,

Mas tão longa de sentir,

E há tanta gente que a escreve,

Sem a saber traduzir.

“Gosto amargo de infelizes”

Foi como a chamou Garret.

Coração, calado, dizes,

Num suspiro o que ele é.

A palavra é bem pequena,

Mas diz tanto de uma vez;

Por ela valeu a pena,

Inventar-se o português.

Saudade- um suspiro uma ância,

Uma vontade de ver,

A quem nos vê à distância,

Com os olhos do bem querer.

A saudade é calculada,

Por algarismo também;

“Distância” multiplicada,

Pelo fator “Querer-bem.”

A alma gela-se de tédio,

Enchem-se os olhos de ardor....

Saudade- dor que é remédio,

Remédio que aumenta a dor.”

Lair Estanislau Alves.