Velho cemitério abandonado


Velhas campas debruçadas
À beirada do caminho,
São monjas velando a morte
Nos restos de infelizes.

Tosco muro, outrora branco
De verde musgo se veste
E nas trincas da cal se mostram
Dos tempos as cicatrizes.

Velha árvore ali nascida
Enredada em ervas bravas
Sugando dos descompostos
A vida, a seiva, os matizes
É o refúgio das corujas
De cascavéis e corais
Da lebre e da rolinha
E desgarradas perdizes.

Conta uma lenda do agreste
que os corpos que ali repousam,
todos morreram em violência.
Quem ceifou suas raízes?

Ou morreram a ferro branco
ou a balaços caíram
E outros três, sem cabeças
acharam-nos dentro do rio.

São ao todo sete tumbas,
sete jazigos sem cruzes,
caídos no esquecimento
Motivos? Quem conta é a lenda:

Amores de uma donzela,
que era pura e era bela
e teria um pai insano
ciumento avaro e louco
e um meio-irmão tardo e bronco.

Mas o certo ninguém sabe
O porquê daquelas campas
e o porquê deste abandono.
E o tempo destrói aos poucos,
As tumbas, a lenda e os sonhos.





Vinícius Lena
Enviado por Vinícius Lena em 25/08/2007
Reeditado em 19/11/2007
Código do texto: T623797