VISGO
O que agora faço com essa tortuosa culpa?
Devo, sem queixar-me, enjeitar de vez o posto?
Ou, quem sabe, conviver de uma forma astuta
com este fajuto visgo de maldade imposto?
Tenho parafusos afrouxados pelo tempo;
em todas as juntas, articulações inatas;
deixo-me sentir, quando sentir já não agüento
curvo-me traído pelas pernas inexatas.
Impedido de remar por conta da corrente,
continuo preso nesse mar - meu egoísmo;
desistindo de bater os braços, impotente,
impedido de esquipar por conta desse abismo.
Mas a minha compleição é forte e persevera;
seguindo, valente, facejando os elementos;
ar e água, terra e água - e mar é água e terra,
pela areia, vou queimando ao fogo do momento.