TRISTEZA
 
Ah, que pena daquele pássaro engaiolado,
Sozinho, na casa escura e fechada!
Às vezes, se alguém se lembra,
Trocam a comida e a água; mais nada!
Ele pula entre dois poleiros,
Que resumem seu mundo inteiro,
Sem brilho de sol, sem vento,
Sem asas!
No seu mundo, não há céu, 
Não há outros passarinhos,
Nem sonhos de liberdade,
Pois há muito, ele se esqueceu
Desta palavra...
 
Ah, que pena daquele pássaro sozinho,
Vendo o mundo multipartido
Através das grades de alumínio
Que encerram-no em seu pobre domínio!
Será que ele se lembra
Do que significa
Ver o mundo amanhecer
Entre as rendas das plantas frondosas?
Será que ele se recorda da sensação
De pular entre os galhos das árvores limosas?
 
Ah, que pena do passarinho triste,
Naquele canto escurecido, entre as vassouras,
Alimentando-se de um alpiste seco, sem gosto,
Engolindo o pequeno desgosto
De poder morrer, a qualquer hora,
E como qualquer tipo de bicho,
Ser esquecido, jogado no lixo!
 
Se eu pudesse, passarinho,
Eu juro que te soltaria!
E ficaria olhando, enquanto você voaria, sozinho
Ao encontro da vida que mereces, e que é a tua verdadeira,
Uma vida cheia de vento, de árvores, flores, galhos,
E chuva, e sol, e cantos, e outros pássaros, e ninhos 
No alto das cumeeiras!
 
Queria teu canto livre,
Não um canto engaiolado, 
Por um pobre coitado
Que pensa que é de alegria
Aquele morrer aos poucos
Que escuta todos os dias!


Ana Bailune
Enviado por Ana Bailune em 18/04/2018
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