Domingo de Páscoa

A multiplicação da tristeza

precedeu o cortejo fúnebre.

E levaram a pouca matéria do anjo

por entre as ruas de Baependi.

A manhã sabia e baixou um tempo nublado,

o comércio também, baixou portas lívidas.

Arrastou-se aquela gente dentro do silêncio

e arrastou-se o silêncio na manhã de domingo.

Os passos eram pequenos mas a dor era grande.

Uma criança por ali chorou outras dores,

talvez daquelas que passam rápido.

Os adultos seguiam funéreos.

As casas espiaram, os cães nem ladraram.

E chegaram, ladeira acima, até o cemitério.

Uma cova logo engoliu o inocente,

aos olhos marejados daquele povo,

que logo dispersou-se

para dentro do domingo de Páscoa que estava em pausa.

A vida segue e logo,

algumas crianças abrirão seus ovos de chocolate.

Ricco Salles
Enviado por Ricco Salles em 22/08/2018
Código do texto: T6426793
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