Hipócrita Divino XIV: Não aguento mais Reencarnar!

Quantas reencarnações se passaram eu não sei,

Quantas fui escravo,

Quantas fui rei,

Até quanto eu encravo?

Todas fui um ser,

Nascido da morte do alvorecer,

Deus diga-me de uma vez,

Reencarnar-me-ei outra vez?

Sou só uma bomba esperando a explosão,

Contando os segundos para a combustão,

Não consigo um dia de paz,

Sou meu próprio Alcatraz?

Me fez inflamável como a lava do inferno,

Frio como o rigoroso inverno,

Sou único, de vida e de prazer,

Mas quando alguém irá me ver?

Cansei de ser transparente,

Por mais que tente,

Não consigo por em mente,

Que alguém me esforça sinceramente.

Nem sei mais o que dizer,

Muito mais o que escrever,

Pois as palavras se repetem,

Mas os sentimentos permanecem.

São gritos e angústias,

Minhas eternas lamúrias,

O sentimento solitário,

Dês da morte do canário!

Porque sou o único que reencarna nessa vida miserável,

Poderia ser eu um filho tão amável?

Ou é castigo ao elo detestável?

Me responda nesse círculo inacabável!

Até quando acharei em minha essência,

De trás de qualquer ciência,

Todo esse rancor,

Todo esse desamor!

Poderia alguém sofrer a minha insanidade?

Entender que não é por piedade?

Mas queria que alguém sentisse,

Esse aranhar na pele nua,

A mordida na carne crua,

O meu choro de lamúria.

Até quando serei cão preso na coleira,

Que chora a noite inteira,

Uivando para a lua utópica,

Numa noite caótica.

Quando terei prazeres e novos gostos,

Não esses galhos tortos,

Dizei-me qual é o preço de minha alma,

Que Lhe pagarei com eterna calma!

Mas estou cansado,

Estou aflito,

Acabado,

Estou voltando ao extinto primitivo!

Corre-me as veias negras,

Os olhos sangrentos,

Garras enfrenas,

De noites serenas!

Aquele sentimento dedo a dedo,

O passar de unhas sob os cabelos,

Sabe qual o meu sabor,

Até mesmo meu odor,

Conhece meu olhar,

Mas não é de alguém que vai se entregar!

Essas correntes não serão minhas vestes!

Não serei morto por tais pestes!

Sou criatura desacorrentada,

Imoral e desalmada!

Lhe pergunto quando poderei atingir as cores da alvorada,

Se posso pintar os céus com minhas garras,

Quantos corpos se fazem um cume,

Infinitos serão os meus gumes!

Olhe para a face de seu algoz,

Ouça em mim a temerosa voz,

Eu serei aquele que combate a luz,

Pois nada já não me seduz!

Cumprirei o papel que me destes oh Senhor,

Nascido das trevas ao seu dispor,

Preparado para uma vida em trevas,

De reencarnações perversas!

Se a vida fosse fácil não teria motivo para voltar,

Mas estou aqui novamente a respirar,

Preparado para mais uma insanidade,

Incumbido de saudade.

Eu ergo o sangue deste ferimento,

Da espada de um ser da luz ardento,

Não me entrego, nem me nego,

Já não tenho mais o antigo ego.

Eis que lhe demonstro todo o meu amor,

Mas tudo que eu consigo sentir hoje é dor,

Então que eu abra as asas, a terra não é quer,

Voarei o mais alto que a estrela do querer!

Pois de orgulho eu não cairei,

Nenhum momento maior pronunciarei,

Nunca quis ser Rei,

Só quero ser aquilo que sei,

Amante e amado.

Nessa noite, queria morrer calado.

Corvo Cerúleo
Enviado por Corvo Cerúleo em 29/03/2020
Código do texto: T6900169
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