David

Outrora forte, andar confiante

Na foto antiga de terno alinhado

Parecia figura importante

Passos largos, rosto zangado

Da janela do quarto

Que dava pra rua

Sentava a calçada

Nas noites de lua

Puxava o banquinho

Peças no tabuleiro

No jogo de damas

Eu movia primeiro

Na escrivaninha sentado

Caneta de pena na mão

Nunca esqueceu o riscado

Com o pé firme, batia no chão

Avô de face cansada

Na vida escolado

De histórias amargas

E silêncio cordato

No sofá da sala

O corpo franzino

Somente calava

Esperava um carinho

De pijamas, magro

Sem olhos no rosto

De ouvido selado

Jazia deitado, roto

Carrego nos braços

Corro da morte

Um último abraço

Sem peso, sem sorte.

Fábio Pirajá
Enviado por Fábio Pirajá em 25/10/2007
Reeditado em 26/10/2007
Código do texto: T709552