Chorando

Os cristais derretidos deslizam no vidro da minha janela.

Marcando na transparência o seu trajeto que não tem fim,

simplesmente caem sem saber seu destino ou sua missão.

Um ciclo de vida sem morte aparente

Porque tudo volta a origem.

O vapor que abandonou o mar toma o rumo dos céus

e são tantos e diferentes vapores fundidos

que não se pode distinguir seus leitos.

Uma perfeita democracia de gases,

sem classe, favores,

suborno ou fraudes.

E ali, o ar crivado de água se congela

e adormece nos lençóis alvos das nuvens.

Partem pelos mais diferentes céus

sem saber o que paira na mente dos que lhes observam.

Certo dia encontram conforto em braços mais quentes

e choram seus mananciais de solidão.

Talvez pelo encontro ou pela certeza do regresso iminente,

mas eu creio que o motivo é bem mais complexo

inspirar as lágrimas que inundam os meus olhos.