Desapegar

Meio perdido perambulo pelas noites,

De segunda à segunda tentando espantar meus fantasmas,

Sonhando com antigos tempos onde sorrir era tão fácil,

Quando havia ainda tantos sonhos à conquistar,

Os desejos que depositava nas estrelas ou árvores de Natal,

As leituras de um futuro promissor nas borras de café,

Buscando compreender o significado das linhas nas minhas mãos,

Eu ainda acreditava na alegria, acreditava que seria feliz...

Agora só o vazio me acompanha do sol à lua,

Os sentidos de Norte, Sul, Oeste ou Leste se confundem,

Não sei para onde ir, não sei como me manter em pé,

Quero apenas fechar os olhos e dormir, dormir e esquecer,

Ver os dias passarem, os cabelos brancos chegarem assim como o fim,

Sem esperar mais nada, sem procurar por mais ninguém,

Apenas aguardar o apagar final das luzes,

O estalo de dedos que me levará para outra dimensão...

Deixar para trás tudo o que sou nesta vida de senões,

Arrancar toda essa dor no meu peito que me machuca tanto,

Anestesiar minhas memórias insistentes de alguém que não fui,

Cessar as lágrimas pelas frustrações das circunstâncias incontroláveis,

Um vinho tinto à enebriar minha consciência de solidão e melancolia,

Apagar as pegadas desastradas que deixei na areia do tempo,

Resumir minha existência trágica em um "Adeus",

E não mais fazer ou quebrar promessas...