memórias antropofágicas de quem nunca viu o sol

acordar de madrugada. dormir cedo.

ver as estrelas andando ao meu lado

em cada esquina cruzada. em cada rua

atravessada.

um bêbado acende um cigarro numa

churrasqueira

enquanto sua cerveja não chega.

o suor desce de minha testa e atendo ligações

que nunca esperei.

como prosseguir nessa imaterialidade?

ouço o barulho do chuveiro.

acordar depois da janta. dormir cedo.

ver as estrelas cruzando ao meu lado

em cada esquina parada. em cada rua

solitária.

vencer na vida sem viver a vitória.

e cada manhã é um pretérito-mais-que-perfeito.

e cada noite é renovada aos orgasmos antes de

dormir. ao suor antes de sonhar.

como sumir nessa imaginação?

a água está quente.

acordar cedo depois de dormir de madrugada.

ver cada esquina cruzada pelas estrelas

atravessando a solidão que anda ao meu lado.

ó meu deus. . .

eu ainda estou vivo!

ó meu deus. . .

há uma cabeça presa em mim e eu estou nela!

ó meu deus. . .

como alguém CONSEGUE fazer ISSO consigo

mesmo?

que horror. . .

eu devorei minha carne,

eu me alimentei de dentro pra fora,

e me surpreendi com a tristeza

quando encarei meu rosto no espelho.

eu tentei esquecer de tudo,

mas guardei a dor.

Cleber Junior
Enviado por Cleber Junior em 11/03/2023
Código do texto: T7737550
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