RÉQUIEM PARA EDELMIRA MIRANDA DASPET ( Minha Irmã!)

RÉQUIEM PARA EDELMIRA MIRANDA DASPET ( Minha Irmã!)

RÉQUIEM PARA

EDELMIRA MIRANDA DASPET

Por Delasnieve Daspet

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Adeus.

Este é o meu canto à tua partida.

Faço um réquiem de adeus.

Quem não chora, amargamente, a despedida?

Chegou a hora do adeus.

Em um último ato repousaste teu cansaço

Em tua cama. Um leve lençol ao lado.

Gentilmente, fechaste os olhos e

Recomendou-se, como sempre, ao Pai.

O terço em tuas mãos.

Partiu como viveu. De forma austera e simples. Com retidão.

Cumpriste tua parte neste latifúndio.

Partiste. Só... em tua morada. Só, como viveste.

Tiveste um filho, Virgílio, que seguiu à frente ainda bebê.

Adotaste teus sobrinhos Marcel e Werner.

Viveste com eles e por eles. Foi assim, sempre.

Mas no dia 7 de março 2024 – ela não veio para o café.

Ritual de todas as manhãs. Preocupado, o sobrinho foi olhar.

Lá estava. Na cama. Deitada de lado.

Lábios e olhos hermeticamente fechados.

Já em outro Plano - voava Edelmira.

Voou como um passarinho no silêncio da noite.

Entregou-se aos elementos. Para a Terra deixou o pó.

Ao fogo algumas vaidades. Em águas as lágrimas de tristeza.

Ao ar perfume de jasmim de cinzas saudades.

O que dizer, minha querida irmã?

A criatura se entregou ao Criador.

Cortou todas as amarras de invisíveis e fortes laços

Que a mantinham presa à Terra.

Chegaram de todos os lados as luzes

De teu caminhar. Cada um contou de tua pureza fraternal.

Edelmira sabia que seu tempo era curto. Nada disse a ninguém.

Nem a mim.

Reservada como era, guardou para si os males de seu coração.

Cumpriu sua missão. Cumpriu com a família. Com seus pais. Seu filho. Seus sobrinhos. Comigo. E com as pessoas que passaram em sua vida na amizade, no amor e na caridade.

E agora, como dizia nosso pai Abraham – as noites já se fazem longas e de saudades.

As lágrimas caem tristes nas faces. Sem vento, as nuvens navegam baixas.

Minha irmã, eu sigo de maneira incerta. Ainda não entendi o que houve.

Éramos duas. Vivemos juntas 69 anos e quatro meses. Contigo finda minha referência parental. Agora, só meus descendentes.

Carrego nos ombros esta terrível ausência. No coração a dor indizível do silêncio que agasalha os dias.

Tento entender este voo. Tento compreender esta liberdade. O componente do distanciamento.

Entreguei teu corpo à Terra. Tu entregaste tua Alma à outras dimensões.

Sabe, Edelmira, desde o dia 7, quinta-feira, já não ouço o cantar do bem-te-vi do meu quintal.

Os soberbos rios de nossa infância quedaram-se mudos. Eu, também, fiquei assim. Mas as orquídeas florescem no quintal... a vida continua. Só tu não estás aqui.

A despedida é o recomeço. O retorno ao início.

Me toma a nostalgia em tom amarelo-saudade.

Vá, querida! Siga, sabendo que cumpriste teu dever. Honraste teu nome.

Ouço ao longe os clarins... Ouves, também?!

Que a brisa da noite leve a melodia ao teu sol-por.

As lembranças queridas te acompanhem.

Amada irmã, hoje meus versos são um canto fúnebre.

A tristeza me abraça em soluços.

Imagino teu leve sorriso ou a gostosa gargalhada ao ouvir minhas queixas.

Sorrirás da pobreza de meus versos que não traduzem o silêncio de minhas lágrimas?

Partiste à minha frente, e, não poderia já que eras a caçula. Penso que foi para abrir os caminhos. Escolheste viajar na lua minguante, em noite quente de verão.

Tua lembrança permanecerá. Falaremos de ti como se não tivesses partido.

No teu repouso eterno me cobriste de tristeza, Mana!

Adeus! Este é o meu canto à tua partida: um Réquiem de Adeus.

Não sei como fazer para amenizar a dor que me toma.

Como controlar a tristeza.

Aninho tua lembrança em meus braços.

Te canto uma canção de ninar.

Não tenho como parar o tempo. Estou impotente.

Cerrada a cortina – fiquei aqui... Ouço o vento que repercute o meu lamento, a minha voz, chora tua ausência e minh´alma entoa o canto do adeus!

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Ode ao Adeus

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Um canto dolente

Torna a alma sombria.

Um raio de fogo arde, agora,

Ao longe, na pequena morada

Jaz adormecida. Noutro plano transportada..

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Um canto doce e triste,

Chora o adeus,

Lágrimas correm pelos olhos.

Como a lua desapareceste.

Ocultou-se como alguém

Que pressente a tempestade.

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Canto curto, um grito triste,

Nublou-se a voz.

Fechou-se o tempo. Cessou o vento

Cessou a chuva.

Na nuvem dispersa um raio de sol

Se derrama - incandescente,

Nas matas e nas flores.

.

Lágrima, uma chuva avermelhada,

Agride o dia – um doce murmúrio

Nas águas da chuva – o canto de adeus!

.

Um canto triste. Gutural,

Preso na garganta. Grito silencioso

Que se junta ao vento que se levanta

No seio da floresta – sem cessar –

Como as vagas do mar.

A lágrima, o grito,

O soluço rouco – é a voz da ausência

Que abraça voraz.

.

Fechou-se o tempo. O sol se pôs,

Após a tempestade.

Como a lua na noite silenciosa,

Como gemido do vento,

Como as urzes que se dobram,

Agora, tão só!

08.03.24