CASA VAZIA (CONTRA O LUTO, LUTA!)

Cinco vidas num único cômodo

Quatro delas numa só cama

Chão de barro, estrada de lama

Isso sempre foi um incômodo

Luz elétrica nunca chegou

A esperança nos seus olhos brilhava

Uma nascente o seu torrão abençoava

Água encanada sempre faltou

Ela labutava e contra o luto lutava

E prosseguia e resistia e acreditava

Que seu sofrimento, talvez, um dia diluir-se-ia

Porém, ninguém imaginava

Que sua estrela lentamente se apagava

E que aquela casa, já vazia, ainda mais esvaziar-se-ia.

NOTA: Sobre pessoas que parecem ter vindo ao mundo apenas para sofrer... (não creio nisso porque tenho certeza de que Deus é Justo. O Justo Juiz!) Porém, tive uma tia que viveu assim. Vinda da labuta pesada da roça de Minas Gerais, analfabeta, sem profissão, casada com um alcoólatra, viveu a vida morando num único cômodo, perdeu o filho mais velho assassinado antes dos 25 anos e o segundo também morto assim ainda mais jovem e a filha mais nova certa vez sumiu de casa e foi encontrada no CTI de um hospital público toda quebrada de pauladas. Minha mãe as trouxe então para morar conosco por um tempo e depois ela voltou para o seu “lar” e faleceu, “sozinha,” dormindo. Nunca mais tive notícias da minha prima Fátima. Peço perdão por compartilhar tanta dor, mas ao publicar este texto, em meio a lágrimas, me bate uma saudade profunda da tia Catarina. Que a Graça e a Paz do Senhor e Salvador Jesus Cristo nunca se retirem do meio de nós.