Íntimo

Dia após dia, tenho lutado e caído morta. Morro diante de meu maior inimigo: Eu

Que a cada batalha se torna mais convencido a deixar a vida.

Esse Eu que cresce em desespero e angústia.

Esse Eu que é todo dor.

Não! Não posso mais persistir nesta porfia.

Perdi meu escudo feito de sonhos.

Partiram-me a espada da esperança.

Rasgaram-me o estandarte da fé.

Para onde ir se me destino a morrer, escrava da vontade do meu Eu obscurecido?

Onde enterrar meus sonhos, débeis defuntos?

Onde estaria tudo o que perdi?

Eu ainda tenho medo do escuro, porque nele brota o pesadelo dessa cruel existência!

Ainda não posso voar e perdi minha mocidade.

Perdi o que poderia ter sido doce e suave.

Perdi quanto eu tinha de medo e horror.

Perdi até o que eu não tinha.

Porque este vazio é o que me completa agora e para sempre.

Eu sempre o temi e agora ele é tudo o que me resta.

É tudo o que nunca quis e agora tenho.

Pois machucaram-me o espírito e mastigaram minh’alma com os dentes do desprezo.

E este vazio que conheço tão bem turvou-me a palidez do rosto.

Marcando-me as faces com lágrimas cortantes,

Enegreceu meu peito com o silencio amargurante do descaso.

E eu amei esse amor com todo o vazio que ele me trouxe e toda a dor que ele me deu.

E agora com estes prenúncios de morte na alma, grito muda de pavor

Querendo um sonho a mais.

E um canto de paz.