O Assalto da Razão - Desabafar Poético XI

O Assalto da razão – Desabafar Poético XI

Eu não posso por minha alma no lugar da sua

E tê-la flagelada em lugar da tua...

Eu não posso... Pois os demônios que te perseguem

São somente seus, posso apenas compartilha-los

Mas não tomar-los para mim...

Sinto-me impotente e displicente, como se fosse deveras

Algo bem menor que um vírus, e como tal

A sugar e destruir aos poucos seu hospedeiro

Numa doença letárgica que degenera aos poucos

Matando corroente o carpir e o siso;

Eu não mereço tanto sofrimento...

Sofrimento tal que és ver ti a sofrer

Querendo estar aos prantos em teu posto,

Mas não posso, a razão deveras não me permite isso;

Essa sempre fria mercenária, algoz de meus ímpetos...

Carrasca tão quanto a distancia é de meu amor;

Eu nunca tinha deixado-a me dominar, mas me vejo agora

Pensando duas vezes antes de agir,

E não agindo duas vezes antes de pensar...

Ela é fria como um punhal e de todo insensível

Talvez consigo ela traga minha destruição

Ligada a sua, pois de que me adianta analisar

Criando assim mais medos e covardias...

Escondendo-me atrás de mais mascaras;

Prefiro a inconseqüência e a paixão que sempre,

Sempre ardeu em labaredas meu coração

E em tudo o que a sorte me permitiu fazer

Mas por qual motivo meu Deus,

Deixei a razão tomar conta de mim

E assaltar nas noites e na tarde minha fronte

Causando denovo o medo de que tanto fugi,

De que tanto lutei contra...

Mas me vejo perdendo-me entre este casulo gélido

No qual me aprisionei durante tempos

Ansiando uma chama que o quebrasse...

E agora me sinto tão inútil e mal agradecida

Que não consigo um riso por nos lábios daquele que amo

Sofrendo os medos antecipados de quem muito pensa

E pouco age... Sofrendo os males da ciência...

Pensando sempre no pior, num pessimismo disfarçado

Nas formas líricas e sonoras de um otimismo medieval

Perdendo em fantasias toda a chama que sempre ardeu

Eterna e tola, mas sempre poeta... A chama da fera...

Chama qual se apaga na mansidão e no frio...

Eu denovo tenho medo, pois penso em temer...

Mas inútil é dormir e inútil é esperar,

Antes vale talvez aquele ímpeto de coragem,

Aquela tolice, aquela bravura... Que nunca mais se repete

Mas sempre se renova nas faces e na candura...

Mas sinto que tu suportas um fado mais do que pode agüentar

E lamenta as noites a se embriagar de solidão,

Pois de fato tudo que sonha não podes tocar,

Mas o que de que vale a vida se pelo sonho não?

Eu digo que morro pelo direito de sonhar

E morro talvez com uma lágrima e um sorriso no rosto

Travados no paradoxo que é viver

E sempre por isso sem escapatória sofrer em amar...

Mas se deveras não ajudo a suportar seu fardo

Sinto-me apenas uma pedra,

Que no meio do caminho topas ao chão

E pranteia por ela estar lá...

E tu num mar de problemas vindo de ti mesmo

Afogado em ondas bravias do que vem a esmo,

E eu barco ao horizonte tão longe que custaria talvez

A própria vida ao tentar alcançar...

Tentando se aproximar aos poucos em remadas fortes

Seguindo o cheiro de seu fôlego pedinte

Mas ainda assim tão distante e tão próximo!

E sentir novamente nas fibras arder tudo o que vale

O sonho, o fogo, e a paixão!

O amor egoísta que bate no coração

E feroz rasga os fios cristalinos da razão

Dizendo seguidamente em voz calada

Tudo aquilo que é ansiado, pois muito se diz no pouco que se faz...

E muito se sofre no pouco que se pensa.

R Duccini
Enviado por R Duccini em 23/02/2008
Reeditado em 24/07/2008
Código do texto: T872920