'REALIDADE".

Hoje estando a sós comigo,

alguém bate à porta.

Ao abri-la, deparei-me com a Realidade.

Ela estava irônica a sorrir,

um sorriso de compreensão,

melhor seria dizer,

um sorriso de escárnio, talvez.

Ao vê-la imobilizado fiquei.

Hirto, estático, ao deparar-me

frente a ela.

Trazia na mão direita um punhal

e na mão esquerda um espelho.

Pôs-me nas mãos o espelho,

e disse.

____Tome! Mire-se nele, você está precisando.

A seguir, estupefato a vi rasgar-me a camisa

e passar a escrever no meu peito,

com letras claras, lindamente desenhadas,

um poema ao qual ela deu o nome,

de... "As minhas verdades".

Com todo capricho e crueldade,

que só a Realidade é capaz,

passou a grafar com o punhal,

neste peito meu, que tanto já sofreu,

esta triste poesia.

De verdades que não eram as dela, claro...

eram as minhas.

Eram tão dolorosas, tão cruéis

as palavras, os versos que escrevia,

que incontrolado me pús a chorar,

sentido e derrotado.

E minhas lágrimas, umas vinham

da alma, vermelhas, lágrimas de sangue.

As outras eram dos olhos.

Ambas se misturavam e formavam

o meu copioso pranto.

E ela, sem comigo se importar,

impassível continuou,

no meu peito a poetar.

Escreveu, escreveu e escreveu.

E eu fiquei ali, vencido,

quieto, calado,

como quem morreu,

como quem tudo já perdeu,

desfeito dos sonhos,

burlescos, coloridos, carnavalescos.

Sonhos de risos, de ilusões compostos,

de alegrias esperançados,

com tanta fé, com tanto gosto.

Todos foram um a um, postos pra fora,

tirados de mim,

pela dura Realidade.

Quem estava ali agora era alguém,

parecido comigo, mas sem sonhos,

sem ilusões, da vida desinteressado.

Quando ela terminou, acenou a

cabeça significativamente

como a me dizer... Entendeu?

Eu nada respondi, mas compreendi.

Ela então, cravou-me no coração,

seu punhal.

Que dor atroz, lancinante,

a Realidade me fez sentir.

E pôs-me na boca o gosto amargo de fél.

Disse-me então, que o punhal

machucava demais, mas não matava.

E lá se foi embora, deixando-me

cravado no coração,

o punhal da dura Realidade

e escrito no meu peito,

o poema...

"As minhas verdades"...

E o espelho eu o olho,

todos os dias,

para não mais voltar...

a sonhar...

Nunca mais...