"A DÚVIDA".
Aquieta-te no peito coração, que da verdade nada sabes.
E tu, alma minha, que dele cúmplice de também ciúmes me ocupa.
Atrevidos! Mentirosos! Cruéis! Dão-me a beber um cálice de fel.
Não a conheceis! Calem-se! Como podem atribuir-lhe culpa?
Fazer insídia! Perfídia! Dela, que é minha santa, meu favo de mel.
Concordo! Somos cúmplices! Eu, alma e coração, em amar essa mulher.
Mas nem minha ela é! E certamente nunca será, pois a outro ela pertence!
Ridículos! Não tens ciúmes do seu dono, mas tens do outro, quem também a quer
E aquele sorriso, aquele brilho nos olhos, aquele rubro a enfeitar-lhe o rosto
Foi sua desabrochada vaidade! Nada mais! Quereis é matar-me de desgosto!
Ou será que não suportastes vê-la, disfarçando naquele sorrir encabulada,
Surpresa a sonhar, pela audácia e atrevimento, naquele olhar nela posto?
Clemência, alma e coração! Arranquem de mim esta dúvida infundada!
Ela ama o primeiro e diz que me ama. Seria talvez, capaz de amar um terceiro?
Óh dúvida! Óh amargo ciúme! Eis que de atroz inveja, morro de desgosto
Não ser poeta. Ser o segundo e não tê-la! Óh Deus! Piedade! Faça-me ser o primeiro...
Athos de Alexandria - 07-03-2008