Corrupta Invernada

Por horas perdidas numa rua distante

Vagava a sós, anelante peregrino,

O céu de chumbo, precipício desolante,

Continha o anátema negro do destino.

Tudo em lamas vestia o caminho

Ânsias animais no ar se fundindo

Ao perfume doce e vago do carinho

As ventas suspirosas iam me abrindo.

Tu não te lembras, meu amor pretérito

Dos versos de Baudelaire, que decantavam

Com valor sublimado de cantar emérito

As doces volúpias que de horror matavam?

Ou então, recorda-te daquele tédio

Plasmado ao vício lasso da corrupção

Onde as prostitutas já sem remédio

Ofereciam lassivas o exausto coração?

Pois bem, era por mundos libertinos

Em meio ao lodo, ao asco perfumoso

Que eu errava em teus olhos cristalinos

Fluindo em castelos sensuais de gozo.

E era como se meu belo trajeto

Unindo meu pranto ao teu sorriso

Num envolvimento sólido e abjeto

Abrisse estradas de lodo e granizo.

Pois tu, minha bela invernada

Onde me acasala o suspirar da dor

És a urna vaga e imaculada

Das horas perdidas no lodo e no amor.