Tardes Púrpuras

Amo as translúcidas tardes de fogo

Em que a saudade canta, pássaro erradio

E, preso as solares melancolias poentes

Envolve a terra com seu hino vadio.

As constelações de prata e de granito

Refulgem ao fundo nessa hora sagrada

Em que as asas de safira do infinito

Brilham quais rubis em tela magoada.

As urnas ardentes dos amores orvalhados

Pelo afeto que de lágrimas se tinge

Lançam pelos ares purpúreos brocados

De toda espectativa secular que os aflige.

Como um demônio a natureza reza

A sua missa de prantos e tristeza

Nobre alma afeita ao choro e a profundeza

Pulsa em mim nesta tarde de beleza.

Nos orgasmos tardios de um mundo diluido

Em broquéis, espumas e dolências vagas

Ferve o meu coração nostálgico e entretido

Na larva nascente das Grandes Dores Amargas.

Amo as tardes diamantinas e espasmadas

Deitadas sobre o leito cândido e vaporoso

As tardes de ouro, preciosas, são amadas

Por mim num suspiro manso e afetuoso.