A Revelação (Ayahuasca)

“A Revelação”

O sorriso é a única coisa que se tira de alguém
Foi com essa frase que começou sua semana
As experiências que nela teria sequer imaginava
A maya sedutora já a encobria, excitava-a
Tentando levá-la de vez pra ilha de Eana,

Mas o mantra solar a trazia de volta
O Gayatri soava como luz do amanhecer
Um sol que raiava devagarzinho
Ia abrilhantando próximo ao seu umbigo
E ela só ouvia: Quer te conhecer?

Como o medo nunca foi de abraçá-la
Aceitou o desafio de ter mais um novo saber
A curiosidade faz de nós conhecedores
E mesmo sem sermos grandes merecedores
Não queria àquela experiência perder

Com sons de tambores se iniciou o ritual
Seu todo reconheciam sobre aquele cantar
Suas pernas, seu corpo, sua mente lhe pediam
Seu coração e sua alma lhe falavam e exigiam
Saúda o vinho do amor e vem pra roda bailar

Sentiu então o gosto misturado das duas ervas
Comeu duas uvas pro amargor tentar passar
Sentia que sua testa esquentava e pulsava
Não sabia se doía pelo que há pouco tomara
Só a certeza que da viagem não podia mais voltar

O mal estar foi aos poucos se instalando
Geometrias coloridas ali aparecendo
Seus olhos no entanto semi-cerrados
Enxergavam mais ainda totalmente fechados
Com tantas luzes ali se acendendo

Foi quando sentiu que só, não estava
A presença marcante se fez prevalecer
Conversava com uma voz que não ouvia
E escutava tudo dito à ela por telepatia
Coisas que fogem do nosso entender

Quando estava mais livre e mais confiante
A voz dissera a ela que teria uma visão
Foi quando a fez olhar pelas mãos o infinito
Restando de suas palmas e dedos resquícios
Trazendo do passado uma revelação

E viu suas mãos se transformarem
Ficando bem velhas como as de uma anciã
As mesmas mãos que com arte encantara
Tinham uma cor horrível que se espalhara
Quando tirava dos ventres pequenos talismãs.

Um choro convulsivo a tomou de impulso
Negando cada ato que de suas mãos viu
Coisas que noutro tempo havia cometido
Coisas que o renascer lhe tinha escondido
Com remorso perdão ali mesmo pediu

E foi abençoada com um bebê lhe sorrindo
Era seu sobrinho que tanto mimava e amava
Soluçou sabendo ser ele um dos talismãs
Nessa vida filho nascido de sua irmã
Que o direito à vida noutra ela roubara

Mas o Paizinho a que lhe falava sem palavras
Sussurrou seus pensamentos perto de seu ouvido
Dizendo que aquele serzinho já a tinha perdoado
E que só o amor que nessa vida ela lhe tinha dado
Já curava uma parcela do que tinha acontecido


















Auricélia Oliveira
Enviado por Auricélia Oliveira em 16/07/2008
Reeditado em 01/11/2008
Código do texto: T1083925
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