CINZAS
(À memória de minha Tia Gioconda Tristão Melani e daquela pessoas que através da dor passaram deste,
para um plano superior)
A manta é cinza
como a cinza do cigarro
naquele avião...
A teus pés a manta
cinza
A cama é cinza
como é cinza a manivela
que suspende teu leito.
Aqui eu espero, meio
cinza
Lá fora a rua é cinza
como a luz do dia,
Da janela fechada
vejo teu cabelo
cinza
E os dias passam cinza
enquanto espero...
Ó quanto não quero,
que tu te tornes
cinzas
Imóvel em teu leito
continuas o sono profundo
feito de comprimidos,
do envelope cor de
cinzas
E da mesa cinza
volto a escrever
de pé; no chão
os ladrilhos também
cinza
A grande talha térmica,
azul e sempre cinza...
Água límpida, pura
que lhe dou de beber...
Por que num hospital
tudo tem sempre
que ser cinza?
E os dias passam cinza,
enquanto espero...
Ó quanto não quero,
que tu te tornes
cinzas...
Por trás do copo d'agua,
no criado cor de cinzas
Esconde-se um leve toque,
alguma cor que não é cinza
O lilás, angelical,
o laranja: energia...
Presentes: A FÉ
das pessoas que te amam...
Que a rosa mística em teu peito,
de cor púrpura, tão linda!
Seja sempre minha lembrança,
mesmo depois de tuas
cinzas...