ESPECTRO

Casarão de estilo gótico,

Majestosa a sua visão.

Cresci morando em frente.

Meu quarto para a fachada cheia de janelas.

Antes de dormir eu fica por horas olhando a janela sem postigo;

Tudo escuro, ausência de vida.

Um dia, ao meio-dia pareceu-me ver alguém;

Desde o crepúsculo fiquei de sentinela...

-

Quando a rua silenciou e todos foram dormir...

Um belo rapaz me acenou de lá,

Da janela sem postigo, sem cortinas.

Pude vê-lo muito bem:

Carregava um candeeiro que iluminava seu rosto;

Tinha olhar sereno e seus movimentos eram suaves.

Desapareceu com mais um aceno.

-

Queria vê-lo de novo

Falar-lhe, saber seu nome...

Enchi-me de coragem e bati à porta logo cedo:

A porta se abriu...

Fui entrando levemente e chamava por alguém...

O silêncio me assustava e o pó alertou a minha rinite.

Entre espirros insistentes fui explorando o lugar:

Ratos circulavam por entre as baratas.

-

O tempo era outro, muito tempo se passara...

Há muito ninguém vivia ali.

Teias de aranha decoravam as paredes

Em meio a retratos empoeirados.

Meus passos foram guiados até a ala esquerda

Lá ficavam os dormitórios do casarão;

Todas as portas estavam emperradas,

Menos uma...

-

Entrei e o retrato era o dele

Do belo rapaz

A foto era recente, ele estava igualzinho como na janela:

Olhar sereno, uns vinte anos de idade.

-

Fui embora assustada, mas curiosa.

Depois soube pela minha avó que ele morreu de tuberculose

Minha avó era menina e com ele brincava.

Sua família não suportou a perda:

A mãe se suicidou e o pai morreu louco no hospício.

-

Ele ainda está lá...

Acena-me todo dia com seu olhar sereno.

Carmen Rubira – Outubro, 2005.

Carmen Rubira
Enviado por Carmen Rubira em 05/05/2007
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