Chamando a chuva

Misteriosamente se desprende

em teus beirados

gota-a-gota

soa em mim como canção

dolorosa

perfumada de aromas

matinais

E das tuas pálidas nuvens

regas de mansinho

meu sossego vagabundo

aconchegado no fundo

onde o céu dorme gemendo

de vida

até a alma se debruçar

num sono profundo

Assim aprendi o segredo

no roçar cantado da chuva

assim deixei meu tédio

num aglomerado de solidões

esquecidas

Consumi todas as ventanias

que escancararam

o eco surpreso no silêncio

Pedi,

Parti

Amei,

Confessei

Abandonei

Reflecti

a ter saudade sem tradução

nas palavras

chamando a chuva

que perfuma a Terra

assaltando à pressa

o que resta da vida

esperando somente... um desejo de absolvição

num acto derradeiro de reconciliação

FC

Frederico de Castro
Enviado por Frederico de Castro em 28/02/2015
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