O Caronte
Chego à margem do rio, com meus olhos enegrecidos, pela vasta neblina, que embriaga minha mente. Sento a sua margem, e um velho barqueiro sorri para mim.
Neste instante, um arrepio mortal percorre meu corpo, e neste momento penso em você, meu grande amor, mas pensamentos são voltados para o homem do barco.
Muitas pessoas seguem até ele, ele olha para mim e diz:
Se você estiver preparado podemos ir.
Mas falo que ainda não estou!
Mas estar preparado para o que?
E ele me diz:
Tenho a eternidade toda para esperar por você!
E não se demora, vejo-o subir em seu barco, e instantes a nevoa fria engole a ele e ao barco. Fico ali a pensar, como ele tem a eternidade para me esperar, tento em vão me desvencilhar de meus pensamentos, e de nossa pequena prosa.
Pessoas, e mais pessoas, se aglomeravam na margem do rio, a sua espera, era um silencio tão mortal que até os mortos se sentiam mal.
O barqueiro não tarda a chegar, olha para mim e sorri, retribuo com um pequeno aceno com a cabeça, não sei quanto tempo estou aqui, mas espero que minha alma gêmea não tarde a chegar.
Sinto-me fraco e cansado, adormeço ali mesmo, a margem do rio. Quando acordo o barqueiro está ao meu lado falo a ele estou muito fraco, e ele me fala:
Que minha transição será demorada, fico ali deitado, sorvendo suas palavras, como um néctar de sabedoria infinita. Estou sem forças para me levantar, neste momento, nossos olhos se cruzam, e pode notar em seus olhos todo o meu passado.
E com um sorriso e seu rosto, já castigado pelo tempo, ele se apresenta. Meu nome é Caronte, e sou um barqueiro, um barqueiro de almas.
Fico pasmo, mas me contenho para não surtar neste momento, e pergunto o que?
Caronte, que significa o barqueiro infernal, e eu temos a função de passar as almas através do Aqueronte, e que de resto é mais um pântano que um rio, é isto que sou!
Deixei-te ai, para ter uma certeza se querias me acompanhar realmente, pois este não é seu lugar, onde você está é como o lugar, aonde nasce às flores de lutos, na lama (Umbral) que querem ser recolhidas.
E você não deve permanecer aqui, neste lugar!
E sim ser transferido, para um outro lugar, sou ajudado a me erguer, entro com muita dificuldade em seu barco, ladeado por outros que como eu farão a transição, e Caronte fala:
Venho através deste mundo, resgatando almas para que na colônia, elas possam e voltar a respirar, e para que um dia sua alma possa desabrochar, em meio à luz, carinho e riqueza de amor eterno.
Obs.
Caronte: No original está o nome do barqueiro infernal: Caronte tem a função de passar as almas através do Aqueronte.
Aqueronte: O subterrâneo rio que de resto é muito mais um pântano que um rio.
Umbral: O Umbral começa na crosta terrestre. É a zona obscura de quantos no mundo não se resolveram a atravessar as portas dos deveres sagrados, a fim de cumpri-los, demorando-se no vale da indecisão ou no pântano dos erros numerosos.
Colônia: Aonde seres desencarnados, habitam para melhor entendimento, de suas vidas, e aprendizado e trabalho feitos em pró de outros necessitados, como os que chegaram.