O ECO by JIÓIA JUNIOR

O ECO

GIÓIA JÚNIOR (atendendo pedido da leitora Ely, de Fortaleza – Ceará)

O que posso fazer se a vida, a glória fez-ma

rotineira, a ilusão não muda, é sempre a mesma.

Que fazer se o prazer é sempre essa utopia

de um minuto feliz! A maior alegria

é ligeira, é fugaz como uma gargalhada,

... inunda a sala e cessa e volta para o nada...

Que fazer para ter alguma recompensa?

Mecânico e fatal o eco responde: ...pensa...

Pensar? Como, pensar? Perder a mocidade

no egoísmo sem razão dessa inutilidade...

Pensar apenas? Não, teria acaso um fim,

pensar, pensar, pensar... de mim e para mim?

Esgotar a existência em um plano ilusório,

sozinho usufruir da paz de um escritório?

Quero menosprezar a vida dissoluta...

Mecânico e fatal o eco responde:...luta...

Lutar... porque lutar... ver bandeiras ao vento,

tambores e clarim, galões e fardamentos,

ver o sangue jorrar em vis revoluções,

ver Césares, Pompeus, Felipes, Napoleões...

Lutar... porque lutar, se essa glória que embriaga

tem o brilho na aurora e no poente se apaga...

Quero mais, muito mais... quero a brasa que inflama.

Mecânico e fatal o eco responde:... ama...

Amar... amei a vida e a vida é tão ingrata...

“Traz o pó que alimenta o micróbio que mata”...

Não, de modo nenhum, permaneço na teima...

“A fogueira que aquece é a mesma que nos queima.”

Amar, de que nos vale amar se o amor é vário,

se ao beijo tem seqüência as dores do calvário...

Quero fugir do mundo e procurar a calma...

Mecânico e fatal o eco responde:... alma...

Alma... quando escutei essa palavra, quando

meditei, vi que havia uma força operando

além da compreensão... vi que o meu ódio acerbo

era a minha impotência ante o mando do Verbo.

Quando, porém, notei que a paz aurifulgente

está em nós firmada... algo puro, inerente

ao nosso próprio ser... chama viva e sagrada

que opera no interior sem depender de nada.

Alma... quando notei que em meu corpo carnal

morava um universo, uma essência imortal,

entreguei-me a Jesus e firmado em seu nome,

na vivificação matei a minha fome.

Pensei... soube pensar em seu reino... lutei

sem medo de derrota ao lado do meu Rei...

Amei aos meus irmãos. E agora em mim revive

a encantadora voz do eco bradando: VIVE!

São Paulo, Julho de 1948.

Alma Gort
Enviado por Alma Gort em 10/04/2011
Reeditado em 10/04/2011
Código do texto: T2899859
Classificação de conteúdo: seguro