LEMBRANÇAS EM PRIMEIRO DE ABRIL
Dia amável este que me faz lembrar.
De teu aniversário e de quando menino.
Tinha colo, e independente das travessuras,
tua raiva contida e teu mimo.
Recordo-me da voz em muda,
a postura em rebeldia.
No desespero do amanhã desconhecido,
agastura de alma adormecida, mas não fria,
sempre encontrava o alento da fé,
marcada no olhar teu.
Épocas de luta intensa,
transcorridas na busca do eu.
Havia na expressão de tua face,
marcas da vida sob traços de alegria,
a doce presença de mãe vó,
rompendo barreiras com carinho,
e a tua força apontando possível caminho.
Dia amargo este que te levou.
Diante do desconsolo
e da derrota em que me via,
recorreste do coma sorrindo
e me fazendo sentir,
não os remédios que prescrevi,
mas a fé fervorosa de uma alma
a caminho da vida eterna.
Urgia o que vias,
o desfecho que eu não reconhecia.
E tu já sabias.
Acordaste recitando um salmo,
o trinta e nove,
da “bíblia crente”.
Alguns trechos,
formataram meu espírito
e jamais pude esquece-los:
"dê-me a conhecer, Senhor, o meu fim,
e a medida dos meus dias,
para que eu sinta o quanto sou frágil"
"Na verdade,
todo homem anda como uma aparência;
na verdade, em vão se inquietam;
amontoam riquezas,
e não sabem quem as levara."
"Ouve a minha oração...,
não te cales perante as minhas lágrimas, ...
Poupa-me, até que tome alento
antes que me vá,
e não seja mais."
Sorriste o ultimo sorriso que pude ter
aqui cravado em minha mente.
E foste.
Não sem antes deixar tua semente.
Foste para o que acreditas,
para onde não sei.
Sei que vou precisar de todo o teu ensino,
na direção que agora caminho.
Cumprindo a escritura de meu destino.