O Mar e o marinheiro
O Mar e o marinheiro
Já cansado do agreste
Tiro a roupa, adentro o Mar
Cuja brisa lá d´Oeste
Como quer já esfriar
Esse mar, gigante, imenso
Vem comigo lamentar
A saudade deste homem
Que não quer mais navegar
Como um simples marinheiro
Como um grão na vastidão
Comoveu o mar inteiro
Com saudade e solidão?!
“Que dizer dos outros barcos
Aos milhares navegando
Vão singrando as tuas águas
Suas mágoas dispersando?!”
“Sinta o outro marinheiro
Peito inflado, te adorando
Que só vive em teu cruzeiro
Dos teus ares respirando!
“Sob o céu, ou sobre a terra
Nada iguala tua beleza!
Com coroa de arco-íris
Reinas entre a natureza!
“Vê se esquece o marinheiro
Não merece... oh, não! Não chore!
Não merece o teu carinho
Faça força e o ignore!
“Olhe o Céu, que lindo está
Veja o Sol crepuscular
Sinta a brisa em ti soprando
Mire a Lua a despontar!
“Ó que lindos os adultos
Com seus filhos a brincar
Todos tornam-se meninos
Os permites flutuar!”
Mas o Mar não fica alegre
A saudade de um só barco...
A Maré não é a mesma
E seu ondejar tão fraco
Diz que seca de tristeza
De amor, de agonia
Que lhe serve tal beleza?
Seu amado a aprecia?
Que lhe serve tanta água
Sem o amado a lhe singrar?
Que lhe serve a alegria
Se não pode desfrutar?
Que lhe serve ser gigante
Se o amado está ausente?
Se quem ama está distante
A sua dor indiferente?
Ela chora e a maré
Sobe, enquanto o vento vaia
Pega a onda em marcha-ré
Depois de lamber a praia
A espuma, então, se espalha
Salivosa sobre a areia
Pois a onda, já nervosa
Contorcendo-se, se enfeia
O horizonte se incendeia
Deixa tudo avermelhar
É o Mar que, pois, pranteia:
“Desnorteia o tanto amar!”
(Djalma Silveira)