INFÃNCIA PERDIDA

Cheia de sonhos, criança excluida,

não tendo vaidades pela sua miséria,

morando em barraco todo encharcado,

chuva que penetra sem pedir licença,

e a gripe maltrata seu corpo frágil,

tossindo, tossindo até se entregar.

Num canto escuro que lhe traz medo,

escuta palavrões que lhe assustam,

vozes partidas de um homem estranho,

e assustada diante dos impropérios,

vê cenas que jamais deveria presenciar,

pois a mãe ausente se entrega sem pudor.

Não conhece seu pai que se ausentou,

apenas foi concebida sem haver amor,

e a mãe que à gerou com tanto ódio,

não lhe dirige siquer palavras de carinho,

substituindo por palavrões desnecessários,

e agressões que marcam seu corpo pequeno.

Infância dolorida com tantos sofrimentos,

Ainda assim sonha com coisas tão lindas,

como plantar flores num jardim todo florido,

e depois entregar botões à mamãe ausente,

que jamais cantou para ela canções bonitas,

um desejo de criança que deveria acontecer.

Queria ter bonecas para fazer seus cochichos,

conversar com ela por não ter suas amigas,

e nas noites de insônia contar seus segredos,

dizendo dos desejos que queria realizar,

como ser bailarina toda vestida de branco,

e nos pézinhos graciosos colocar sapatilhas.

Infância perdida pois não lhe resta esperanças,

o seu mundo não tem sons de músicas suaves,

só impropérios que ferem sua alma tão linda,

e vão se acumulando para formar seu perfil,

que quando crescer a sedução será o crime,

talvez entregando seu corpo para sobreviver.

10-09-2009