O MENINO DE PÉS DESCALÇOS

Não tinha nem mesmo um chinelo.

Vagava pelas estradas poeirentas,

pés descalços, pisando em pedras,

machucando os pés com dor lancinante,

mas não se importava pois era feliz,

e ele menino peregrino não media distâncias.

Criança pobre que não conheceu escolas,

só sabia contar as estrelas do céu,

algumas de constelações que conhecia,

e memorizava na cabecinha esperta,

às que seu pai nas historinhas contava,

e por elas seu coraçãozinho se apaixonou.

Ágil como uma flexa que busca seu alvo,

não media perigos pelo seu atrevimento,

subindo em árvores para colher seus frutos,

ou então se jogando em cachoeiras rebeldes,

para despontar logo abaixo exibindo sorrisos,

num atrevimento próprio de garoto esperto.

Nunca se queixou da extrema pobreza,

sua riqueza éra a familia que tanto amava,

seu pai companheiro de suas estrepolias,

e a mãe lutadora tão doce como o mél,

tendo irmãozinhos para suas bagunças,

e um horizonte sem fim para percorrer.

Solitário nas andanças por campos floridos,

expunha seu rosto quando a brisa batia,

sentindo o perfume das flores que ela trazia,

feliz por ter uma natureza tão encantadora,

que trazia alegrias ao seu coração de criança,

mesmo de pés descalços com sola tão grossa.

Subia atrevido nos grossos galhos da paineira,

procurava num tronco acomodar o corpo pequeno,

sabendo que lá longe um espetáculo aconteceria,

o pôr do sol peregrino que já procurava descanso,

e quando tombava devagarinho pincelava as nuvens,

de cores tão lindas que seu coração então divagava.

Nisto os passarinhos que também percorriam espaços,

chegavam em revoada para alimentar seus filhotes,

e entoavam seus cantos homenageando o menino,

que feliz descia tão rapido do seu doce aconchêgo,

pois a noite já anunciava que logo estenderia seu manto,

e a paineira em despedida soltava painas aqui e ali.

22-05-2010